As riquezas da floresta além da utopia
Viabilizar a exploração legal da floresta, com uso de critérios técnicos e sustentáveis, é a melhor forma de gerar emprego e renda para a população que vive nas regiões mais afastadas dos grandes centros populacionais do Brasil. Dados do Serviço Florestal Brasileiro (SFB) mostram que cerca de 500 mil trabalhadores estão ocupados em alguma atividade ligada ao setor de base florestal. Somente na produção em floresta nativa são quase 12 mil postos de trabalhos formais.
Levantamento sobre as exportações em 2020 aponta que os produtos florestais movimentaram US$ 11,4 bilhões, a terceira maior receita no ranking dos produtos agropecuários, ficando atrás somente do complexo de soja e de carnes. O mais importante, porém, está no potencial ainda a ser explorado. Cerca de 40% das florestas tropicais do mundo estão em território brasileiro, mas somente 10% da produção mundial vêm dos nossos recursos e destes 10% que produzimos, somente 3% são exportados.
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Essa introdução numérica é apenas para mostrar como é possível aliar floresta com desenvolvimento sustentável, visto que os números acima representam o mercado formal e legal dos produtos florestais. Isso é, tudo aquilo que é produzido em acordo com a legislação ambiental e trabalhista vigente e com as devidas tributações. O que precisamos combater é o ilegal, o crime ambiental, não os meios corretos que congregam conservação com geração de riquezas.
O desmatamento ilegal, as queimadas, a exploração mineral e as mudanças climáticas se tornaram pauta cotidiana nos noticiários do país e do mundo de forma unilateral, sem trazer ao conhecimento popular as formas adequadas e sustentáveis de explorar os recursos naturais. Somente um lado é abordado, como se todos os integrantes da cadeia produtiva, do empresário ao picadeiro, atuassem na marginalidade no sistema.
Infelizmente, a utopia do mundo ideal, em que as riquezas advêm da natureza sem que haja qualquer impacto, ainda permeia o imaginário de parte da sociedade. Essa busca paralela à realidade é alimentada justamente pela falta de conhecimento real sobre a vida das pessoas e da economia nas regiões florestais.
Assim como nos grandes centros urbanos, essas populações buscam mais qualidade de vida e precisam de recursos financeiros para o sustento de suas famílias e acesso a serviços e produtos. E isso é justo e possível. Atualmente existem meios de exploração florestal que são sustentáveis em todos os aspectos: ambiental, social e econômico, como o manejo florestal sustentável.
Esse método de exploração dos recursos florestais, quando certificado, garante que a floresta é manejada de forma responsável, em acordo com os princípios e critérios técnicos, e pode ser adotado tanto para produtos madeireiros quanto para os não madeireiros. Além disso, o manejo florestal é a melhor forma de rastrear a produção, atestando a origem desde a produção da matéria-prima que sai das florestas até chegar ao consumidor final.
Assim, onde há manejo florestal, as autoridades têm total controle das atividades, com acesso a imagens detalhadas, rastreabilidade dos produtos coletados e ainda há a identificação dos produtores responsáveis pelo plano, possibilitando punir em casos de irregularidades, intencionais ou não. A atuação legal do setor florestal tem foco nos mercados formais, nacionais e internacionais, que se mostram cada vez mais exigentes e preocupados com a origem dos produtos que ofertam aos clientes.
É por isso que o combate aos crimes ambientais não é só uma questão de princípio, é também de interesse econômico do setor. Primeiro, porque o desmatamento ilegal condena o futuro da atividade. Ao abrir grandes áreas de forma desordenada, retira-se da mata árvores imaturas, sem valor comercial e ainda impede que a renovação florestal seja efetivada.
Outro grande problema para a economia é o comércio paralelo. Os produtos de origem ilegal são vendidos por preços abaixo do valor de mercado, gerando uma concorrência desleal, e ainda colocam em risco a credibilidade do produto florestal brasileiro. O setor formal e legalizado das atividades de base florestal está à disposição para trabalhar em conjunto com a sociedade em busca de desenvolvimento econômico e social e preservação ambiental.
Frank Rogieri de Souza Almeida – Presidente do Fórum Nacional das Atividades Florestal, empresários e produtor de madeira nativa