Cerca de 200 mil empregos estão ameaçados no norte do país
O setor de atividades de base florestal está parado há mais de 30 dias e a crise ameaça a safra 2020 de madeira.
Com as vendas suspensas e sem perspectivas de retomada do mercado nacional e internacional, o setor da base florestal teme perder a safra 2020 que deveria começar em maio. Pelo menos 200 mil empregos diretos na produção de madeira e de outros produtos florestais decorrentes do manejo florestal sustentável brasileiro estão ameaçados. No norte do país, as indústrias deram férias coletivas ou suspenderam os contratos dos trabalhadores e armazenam os estoques de matérias-primas e produtos finais.
O Fórum Nacional das Atividades de Base Florestal (FNBF), entidade que congrega mais de 3 mil empresas de todo o país, busca alternativas para evitar a falência de seus associados. O presidente do Fórum, o empresário Frank Rogieri de Souza Almeida, afirma que o Fórum está se articulando politicamente nas esferas estaduais e nacional para a aprovação de leis que possam reduzir os impactos da crise financeira provocada pelo novo coronavírus.
“Estamos nos reunindo para apresentar uma agenda de proposta que possa dar suporte aos projetos de manejo e às indústrias de todo o país. Suspensão de impostos, linhas de crédito e prorrogação de prazos devem ser apresentados como sugestão”, explica Frank Rogiei.
Nas indústrias da família Paluchowski, em Sinop (500 km ao norte de Cuiabá-MT), a alternativa foi recorrer à Medida Provisória (MP) 936 para suspender os contratos de trabalho por 60 dias. “Há 30 dias não embarcamos nada. Nosso pátio tem pelo R$ 1,2 milhão em mercadorias paradas e correndo o risco de estragar e nossos clientes em São Paulo não têm estimativa de quando vão voltar a comprar”, explica Rodrigo Paluchowski, um dos sócios das três indústrias e de dois projetos de manejo da família que atendem o setor da construção civil.
Em Santarém (município a 1.376 km de Belém-PA), os 55 dos 75 funcionários do empresário Liceu Veronese receberam férias coletivas. Além de ter as vendas de laminados suspensas, a indústria também deixou de receber pelos produtos já comercializados. “Nossos clientes no sul do país explicam que pararam de receber e não têm como nos repassar os pagamentos. Dia 06 de maio os funcionários deverão voltar, mas não sabemos se retomaremos as atividades ou se teremos que demitir”.
O presidente do Fórum Nacional das Atividade de Base Florestal, Frank Rogieri, conta que o mercado opera com cerca de 10% a 15% do volume de vendas registrado em fevereiro e que infelizmente a demissão deverá ser a única a saída para muitas empresas caso o mercado não sinalize abertura. “Se não houver retomada das atividades, não poderemos começar as operações de tora, pois são produtos perecíveis e que não podem ficar parados sem escoamento. Sem matéria-prima não tem produção e as atividades ficam suspensas”.
Além de não ter para quem vender, o proprietário de uma fábrica de pisos em Alta Floresta (820 km ao norte de Cuiabá-MT), Leandro Serafim, explica que a indústria estará descapitalizada para iniciar a operação dos projetos de manejo. A fábrica dele operou até esta última semana de abril para cumprir os contratos que já tinham sido faturados agora param em maio.
“Nosso faturamento mensal vai cair consideravelmente a partir de maio. Como vamos iniciar os projetos assim?”, questiona o empresário que dará férias coletivas a mais de 100 funcionários. A empresa de Leandro Serafim tem negócios diretos com mais de 35 países.
Números – O setor de atividades de base florestal é responsável pela movimentação de 3% do PIB brasileiro e exportou o equivalente a US$ 277 milhões em madeira nativa no ano passado, sem considerar a exportação dos produtos provenientes de floresta plantada. Apesar do número expressivo, o setor tem grande potencial de crescimento. O país possui 40% das florestas tropicais do mundo, mas produz apenas 10% da madeira nativa e a participação no mercado internacional de madeira nativa é de apenas 2%.
De acordo com o Centro das Indústrias Produtoras e Exportadoras de Madeira do Estado de Mato Grosso (Cipem), a madeira oriunda de florestas naturais é a principal fonte de arrecadação de recursos e de criação e manutenção de empregos em muitos municípios da Região Amazônica.