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Crescimento à vista – Perspectivas 2017

Por Rafael Macedo*

O ano de 2016 deixou um gosto amargo. As empresas, de modo geral, lutaram para manter a saúde financeira. A satisfação de deixar para trás o dissabor do ano que acabou e a expectativa da retomada econômica agora em 2017, traz ânimo renovado para o setor de base florestal. Para os especialistas, a previsão de crescimento moderado é bastante real, mas é importante que o governo faça a lição de casa, principalmente nos assuntos ligados à legislação trabalhista e tributária, além de desatar nós que retiram a competitividade brasileira frente a outros países.

Em resumo, vivemos um momento de otimismo realista. Cabe a cada ator realizar as ações necessárias para fazer a roda girar novamente. Apesar do ano sofrível para a economia brasileira em 2016, o setor florestal apresentou números gerais positivos. Nos 11 primeiros meses do ano passado, o volume de exportações indicou evolução na comparação com o mesmo período de 2015. O resultado positivo do saldo da Balança Comercial do setor atingiu US$ 6 bilhões (+2,3%). Resultado do crescimento expressivo do mercado externo.

O valor da madeira deve se manter nos mesmos patamares, pelo menos no primeiro semestre de 2017.

De janeiro a novembro de 2016, o segmento de celulose atingiu volume de 11,7 milhões de t (toneladas) exportadas (+11,6); o papel registrou 1,9 milhão de t (+2,5%) e os painéis de madeira 932 mil m³ (metros cúbicos) (+65,2%). Como consequência, a produção brasileira de celulose registrou 17,1 milhões de t (+8,5%) e a de papel manteve-se estável totalizando 9,5 milhões de t no mesmo período. Por outro lado, as vendas de papel no mercado interno registraram 4,9 milhões de t (-0,4%) entre janeiro a novembro de 2016, enquanto que no segmento de painéis de madeira, registraram mais de 5,7 milhões de m³ (-3,3%).

“O setor de árvores plantadas foi um dos únicos a atravessar, com certa estabilidade, o momento adverso da economia brasileira”, explicou Elizabeth de Carvalhaes, presidente executiva da Ibá (Indústria Brasileira de Árvores) e presidente do Icfpa (International Council of Forest & Paper Associations). Com a perda do poder de compra do mercado doméstico, as empresas do setor buscaram conquistar espaço no exterior. “Esperamos que o país consiga desempenho melhor neste ano em comparação a 2016”, completa.

Para que isso se concretize, Elizabeth avalia que sejam necessárias ações que revigorem primeiro o mercado interno, para depois finalmente introduzir o país no cenário mundial. Para a executiva é essencial efetivar reformas importantes como, por exemplo, a trabalhista, que impactará positivamente na produção e na competitividade empresarial. “Todos os setores precisam agir na estruturação trabalhista baseada principalmente na produtividade, respeitando as convenções de trabalho”, recomenda.

Outro ponto crucial é a plataforma fiscal que merece ser modernizada. “É preciso atuar nestes pontos primordialmente, pois nenhuma empresa conseguirá acessar o mercado internacional se não tiver um produto competitivo.” Considerando estes ajustes e o panorama desenhado no início do ano, o setor florestal nacional vive a expectativa de saltar do 4º para o 2º lugar em produção mundial de celulose já nos primeiros meses de 2017, ultrapassando Canadá e China. A projeção de investimentos no segmento brasileiro até 2020 gira em torno de R$ 40 bilhões, considerando o que foi investido ao longo de 2016. Segundo os dados da Ibá, o setor brasileiro de árvores plantadas é responsável por 6% do PIB (Produto Interno Bruto) Industrial do país.

A questão ambiental também pode contribuir com o crescimento das exportações. “Os países que mais emitem gases de efeito estufa, como por exemplo, a China, estão pressionados a melhorar seus processos industriais e com isso preferem importar produtos que tenham menor impacto ambiental”, avalia a presidente executiva da Ibá. Neste caso, a indústria de florestas plantadas brasileira é referência mundial, com produtos que mais absorvem carbono, entre eles a celulose, o papel e o painel de madeira.

Lição de casa

Como todos sabem, não é prudente esperar o governo tomar decisões que beneficiem o setor por conta própria. É preciso pressionar e principalmente mostrar por quê elas são imprescindíveis. Por isso, a Ibá tem uma pauta bem definida das ações prioritáris que precisam ser tomadas pelo poder público.

“Neste ano, vamos trabalhar junto ao ministério da Fazenda, Agricultura, Meio Ambiente e Ministério das Relações Exteriores, para discutir a criação do mercado de carbono brasileiro”, garante Elizabeth. Ela acredita que o Brasil precisa desenvolver políticas públicas e mecanismos de mercado para a precificação do carbono, discutida amplamente na COP 22 (Conferência das Partes sobre Mudança do Clima). Isso permitirá ao país entrar com força na chamada economia verde, uma nova área que deve contribuir significativamente para a retomada para o crescimento da economia.

A aquisição de terras para empresas com capital mestrangeiro, congelada há mais de seis anos, será outro desafio para 2017. É um importante passo para atrair investimentos estrangeiros, gerando empregos e renda. Entre as associadas da Ibá, estão diversas companhias multinacionais de grande porte com investimentos paralisados, tanto em novas unidades como em ampliação das atuais. “Além disso, estarão em nossa pauta a aprovação da lei de licenciamento (ambiental para silvicultura), a ampliação de mecanismos que incentivem o consumo de produtos mais sustentáveis e a implantação de políticas que consideram a biomassa como um produto de carbono neutro.”

A dirigente indica que duas novas áreas que surgem com potencial de proporcionar grandes oportunidades de geração de riqueza para o país e, por isso, precisam ir para o centro da mesa de discussões em 2017, são a precificação do carbono e a emissão de títulos verdes. “O Brasil tem um enorme potencial para se tornar um dos líderes destes novos mercados e, assim, captar bons investimentos no médio prazo.”

Tendências para 2017

Com o mercado interno ainda em baixa, o cenário de exportações ganhará força e deverá registrar mais um ano de resultado positivo, mesmo que aconteça uma valorização do real. O atual movimento em prol do clima deve aumentar a demanda por produtos sustentáveis, renováveis e recicláveis, como as florestas. O aumento da produção ocorrerá em conjunto com a preocupação com o meio ambiente, sendo o setor essencial para equilibrar o atendimento às demandas da população com capacidade de regeneração dos recursos do planeta.

Além disso, a expansão das florestas plantadas e restauração de áreas degradadas têm potencial de contribuir indiretamente com a redução do desmatamento ilegal, ao mesmo tempo em que aumenta os estoques de carbono. Para as empresas e produtores florestais é importante também estar atento às novas tecnologias, como a biorrefinaria, a nanotecnologia e a biotecnologia.

As boas notícias do início do ano, como a redução da inflação e a consequente queda na taxa básica de juros podem, no médio prazo, contribuir com o resultado financeiro das empresas. Espera-se também que o aumento do preço dos insumos que afetou os custos das empresas nestes últimos dois anos seja minimizado em 2017. “Desde a crise econômica de 2009, há uma tendência de recuperação dos preços dos produtos da base florestal”, afirma Elizabeth.

Exportações foram as grandes responsáveis pelo bom desempenho geral do setor de base florestal em 2016.

Em 2015 destacou-se o crescimento de 6,6% e 6,5% na taxa média anual dos preços da madeira em tora de eucalipto e pinus, respectivamente. “Quando olhamos para os fatores externos, a política econômica de Donald Trump deve interferir no cenário cambial”, destaca a executiva. Para ele, caso haja um crescimento de gastos do governo dos EUA (Estados Unidos da América) para gerar empregos e aumentar a renda do trabalhador, é possível que haja uma valorização do dólar perante outras moedas, contribuindo positivamente com o preço das commodities e aumentando os ganhos com as exportações.

Bahia

As empesas florestais baianas sentiram os reflexos da situação econômica nacional, que também impacta regionalmente, com redução do consumo. “Ainda assim, o setor de base florestal na Bahia mostra resultados positivos”, comemora Wilson Andrade, diretor executivo da Abaf (Associação Baiana das Empresas de Base Florestal). O setor apresentou crescimento enquanto a indústria do estado amargou queda e, mais uma vez, ficou em primeiro lugar no montante das exportações da Bahia.

De acordo com dados disponibilizados pela Fieb (Federação das Indústrias do Estado da Bahia), o Estado exportou U$S 6.8 bilhões em 2016, dos quais o setor florestal foi responsável por 18% (U$S 1,2 bilhão). Conforme dados da SEI (Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia), no período de janeiro a novembro de 2016 a produção industrial baiana registrou taxa negativa de -4,7%, na comparação com o mesmo período do ano anterior. Enquanto o setor de base florestal obteve aumento na produção de 2,2%.

Para 2017, o executivo aposta em crescimento contido com inflação bem mais controlada. Existem perspectivas, na Bahia, de novos investimentos em florestas plantadas para os principais segmentos da cadeia produtiva. Há expectativa de alta nas exportações porque a atividade recebe alavancagem de quatro diferentes setores que utilizam madeira plantada nos processos produtivos: papel e celulose; construção civil; mineração; e energia de biomassa.

A volta da compra de terras por estrangeiros, na opinião de Wilson, é outro ponto que vai colaborar para a entrada de capital na Bahia. “O crescimento econômico conta ainda com a expectativa de liberação dos investimentos estrangeiros no setor florestal que estão bloqueados há mais de quatro anos”, aponta. Estima-se a possibilidade de investimentos no setor florestal na ordem de R$ 50 bilhões nos próximos cinco anos. “E a Bahia, líder mundial em produtividade de eucalipto, deve trabalhar para assegurar boa parte desses investimentos.”

Paraná

Para Ailson Loper, gerente executivo da Apre (Associação Paranaense de Empresas de Base Florestal), a mudança positiva no cenário deve acontecer a partir do segundo semestre. “Isso, caso haja avanços na economia brasileira e a partir das decisões de comércio internacional e econômicas do novo governo dos EUA”, pondera. Ele acredita que serão necessárias medidas mais enérgicas por parte do governo federal para que o país volte a crescer.

Para o segmento produtivo a recomendação é abrir mercados e investir em novos produtos. Na avaliação do executivo, o cenário inicial indica uma tendência de manutenção de preços, pois não há expectativas de alterações bruscas na atual conjuntura. Com a retomada da economia nacional e o aumento da demanda por madeira, aí sim, os preços devem responder.

Levando em consideração a retração econômica do último ano, a estratégia sugerida por Ailson ainda é a busca por eficiência, o que passa por um controle maior dos custos e pela inovação de processos e produto. “É preciso fazer mais com menos ou, pelo menos, fazer melhor com recursos iguais.”

Santa Catarina

“A crise mercadológica, com retração do poder de compra da população, afetou diretamente os produtos de base florestal, principalmente os utilizados na construção civil como chapas de madeira reconstituída”, lamenta Mauro Murara Jr., diretor executivo da ACR (Associação Catarinense de Empresas Florestais).

Os reflexos foram a diminuição da demanda por madeira de desbaste ou de menores diâmetros. Algo que desestimula o pequeno produtor de florestas, levando-o a substituir a cultura florestal pela soja. Mauro imagina que 2017 apresente uma reação ao que se viu no ano anterior, mas ele também defende que é importante abrir novas fronteiras para o produto florestal.

“O mercado consumidor externo, principalmente o norte-americano, teve um crescimento pequeno em relação a outras regiões como o Oriente Médio e a Ásia.” Por isso, a expectativa é que ocorra um pequeno aumento na exportação de Pmva (produtos de maior valor agregado). Ele acredita que duas questões são prioritárias para que o cenário melhore. “A primeira seria a retirada de barreiras tarifárias e não tarifárias para estimular a exportação, captação e abertura de novos mercados”, afirma.

Outro ponto é mostrar à sociedade a importância da indústria de base florestal catarinense e brasileira. “É importante que as pessoas entendam que o consumo de produtos vindos de florestas ajuda a preservar e manter as florestas nativas, cumprindo um papel ecológico”, argumenta Mauro.

Mato Grosso

Se na média geral a coisa não foi fácil, pode-se dizer que Mato Grosso sofreu ainda mais em 2016. “Este foi um dos anos mais difíceis para nosso segmento”, declara José Eduardo Pinto, presidente do Cipem (Central das Indústrias Produtoras e Exportadoras de Madeira do Estado de Mato Grosso). Ele se apoia em vários fatores: economia em recessão, agravada pelo cenário político e pelo processo de impeachment; governo federal e os estados, incluindo Mato Grosso, sem dinheiro; custos das indústrias madeireiras aumentaram e demanda e preços dos produtos florestais caíram.

Porém, os principais fatores negativos que engessaram a indústria de base florestal estão ligados com aspectos legislativos e normativos. Entre os vários casos está a redução do percentual de aproveitamento de toras, medido pelo CRV (Coeficiente de Rendimento Volumétrico), de 45% para 35%. “Além de não condizer com a verdade obrigou as empresas a mais ônus de grande monta”, aponta José Eduardo.

Houve ainda problemas não solucionados após a publicação da Portaria nº 443/2014 do MMA (Ministério do Meio Ambiente), que atualizou a lista de espécies vulneráveis. Empresas do Mato Grosso continuam realizando inventário, por meio da Embrapa Florestas, para demonstrar o equívoco da normativa. “Em breve apresentaremos os novos resultados ao MMA mostrando que as espécies apontadas não estão na condição de vulneráveis, muito menos correm risco de extinção.”

O Estado passa ainda por um processo de reforma tributária que, na contramão das soluções, sugere aumento na carga de impostos. “No entanto, tiramos uma lição de 2016: tivemos que nos adequar ao cenário difícil e agora as empresas estão mais enxutas e preparadas para qualquer cenário”, destaca. Apesar das imensas dificuldades, o executivo garante que o Cipem está buscando alternativas.

Fatores ambientais e crédito de carbono serão fatores que ajudarão a impulsionar a economia baseada em produtos florestais.

“Nossas perspectivas envolvem o investimento em inovação, aliada à sustentabilidade, e visando abrir novos eixos de mercado em 2017.” A entidade desenvolveu um projeto, em parceria com o Instituto WWF-Brasil, denominado Mato Grosso e a indústria florestal do futuro. “Pretendemos trazer para o Estado uma plataforma de madeira beneficiada colada e quem sabe também a tecnologia wood frame para fomentar o uso da madeira na construção civil”, adianta. O projeto já vem sendo discutido com o governo do estado e com outros parceiros e está em fase de captação de recursos.

Mato Grosso do Sul

Existe um abismo entre os dois Estados irmãos. Enquanto um sofre pelas dificuldades em trabalhar, majoritariamente, com o manejo de nativas, o Estado mais ao sul vive plena expansão. O setor florestal do Mato Grosso do Sul espera crescimento médio de 10% em área plantada de eucalipto neste ano e, com isso, chegar à marca de um milhão de hectares de florestas.

O volume deve superar o desempenho registrado no ano passado, quando foram plantados aproximadamente 50 mil ha de florestas. “Para este ano, nossa expectativa é chegar a um milhão [de hectares], mas isso depende de uma série de fatores”, garante Benedito Mário Lázaro, diretor-executivo da Reflore MS (Associação Sul-Mato-Grossense de produtores e Consumidores de florestas Plantadas). Atualmente, 60% de toda a floresta plantada no Estado é para abastecer as duas fábricas de celulose instaladas no município de Três Lagoas, Fibria e Eldorado Brasil, sendo que a primeira deverá inaugurar, no segundo semestre deste ano, a sua segunda linha de produção.

Uma das questões que estão sendo tratadas no Estado é exatamente o excedente de madeira que não é aproveitado pelas plantas de celulose. A Reflore MS, ao lado de empresários, está estruturando caminhos para diversificar a atividade. Entre as alternativas está a Integração Lavoura-Pecuária-Floresta.

*Originalmente publicada na Revista Referência Florestal